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Processos químicos estão em quase toda a indústria e em muitos serviços



Contando com a participação de 13 conselheiros, a Câmara Especializada de Engenharia Química (CEEQ) é um colegiado relativamente pequeno no conjunto de órgãos que compõem o Crea-SP. A área de atividade que a CEEQ fiscaliza, porém, tem uma abrangência e uma relevância que são maiúsculas. Quem chama a atenção para isso é o especialista no assunto Eng. Quim. e Eng. Seg. Trab. Francisco Innocencio Pereira, coordenador da CEEQ. “A Engenharia Química tem grande responsabilidade sobre nosso mundo, através dela sairá a solução para muitos dos problemas enfrentados por todos”, escreveu ele na abertura de um recente artigo.


Pereira está no seu segundo mandato consecutivo como coordenador da CEEQ e também exerce a função de Coordenador Nacional da CCEEQ, o órgão que reúne as 27 Câmaras Especializadas de Engenharia Química do sistema Confea.


O número de conselheiros de uma câmara especializada é proporcional à quantidade de engenheiros da modalidade que são registrados no estado. Estima-se que haja de 12 mil a 13 mil engenheiros químicos em atuação em São Paulo. Esse setor da Engenharia se divide em diversas especialidades: engenheiros químicos, de alimentos, de materiais, de petróleo, têxteis, de plástico, industriais, de produção, de operação e tecnólogos químicos.


Produto, processo e profissional


Como consequência da quase onipresença da ciência química nos processos industriais e em muitos serviços, o universo de empresas relacionadas a essa modalidade no estado de São Paulo é amplo. Segundo Pereira, são cerca de 88 mil empresas em território paulista que desenvolvem atividades e fazem produtos tão diversos quanto alimentos, bebidas, tratamento de água e resíduos, petroquímica, tintas, corantes, esmaltes, explosivos e munição, têxteis, agroquímicos, gases industriais, plásticos, borracha, vidro, celulose, papel e papelão, cimento, cerâmica, farmacêuticos, fertilizantes, desinfetantes, detergentes e sabões, perfumes, cosméticos etc.


“Temos um mercado muito grande para cobrir. A cada semana temos uma média de 10 a 20 processos que são gerados pelo trabalho dos fiscais do Crea-SP”. Por causa disso, a CEEQ do Crea-SP elaborou, também em 2016, um manual para facilitar a tarefa de fiscalização e complementar a formação e o treinamento dos agentes. O trabalho dos fiscais não se limita a verificar a transformação e a fabricação de produtos, estende-se também a unidades de armazenamento, distribuição e às consultorias da área. O manual lista aonde o fiscal deve ir, isto é, todas os locais e atividades que precisam ser objeto de fiscalização, qual deve ser o procedimento dos fiscais nas diligências, como devem ser feitos os relatórios e as notificações, e traz a legislação pertinente à área química. O manual de fiscalização da Engenharia Química está disponível em pdf no site do Conselho.


Na definição de Pereira, três “Pês” resumem o trabalho de fiscalização na especialidade da Engenheira Química: Produto, Processo e Profissional. O primeiro “P”, de produto, diz respeito a tudo o que é manufaturado. Quase sempre há reações químicas acontecendo na elaboração dos produtos. O segundo, processo, é a maneira como essas reações são produzidas e controladas em escala. O terceiro “P”, o do profissional, aponta para a necessidade de haver responsáveis pelos dois primeiros, que precisam ser devidamente habilitados. “Tem muita indústria fabricando bebidas, alimentos, tintas, remédios e não tem como responsável técnico um engenheiro químico. O primeiro passo do fiscal ao fazer uma visita é verificar se a empresa tem o engenheiro responsável. Por isso, que o responsável técnico não pode ser qualquer engenheiro”.


Segurança da sociedade e equilíbrio de mercado


O objetivo da fiscalização, frisa Pereira, é garantir a segurança da sociedade em relação aos produtos utilizados e consumidos. Como aqueles que são entregues pela indústria de alimentos. Uma ocorrência citada por Pereira é a de um frigorífico que teve um problema de surgimento de infecção por salmonela, uma espécie de bactéria, na carne de frango que lá é processada. O frigorífico contava com veterinário. “Mas o veterinário estuda o animal morto. Entrou um animal vivo com a doença e contaminou o aviário. A empresa precisaria contar com ao menos um engenheiro de produção junto com o veterinário”, ressalta o coordenador da CEEQ.


Esse tipo de situação muitas vezes tem a ver com o nascimento das empresas como pequenos negócios familiares. Há inúmeras que começam fazendo um doce ou um chocolate. E crescem sem adotar os cuidados de higiene necessários para uma produção em maior escala. “Para abrir uma sorveteria de bairro não é preciso contratar um engenheiro químico, mas uma fábrica de sorvete que passa a fazer distribuição precisa de um responsável técnico”, esclarece.


A fiscalização do Crea-SP, em um caso assim, atua para proteger principalmente a população – além da própria empresa. O objetivo é que esta não produza algo que possa fazer mal aos consumidores. Há também um sentido educativo nessa atuação. No primeiro momento, a empresa recebe do fiscal um prazo para ter um responsável técnico.


Outro aspecto importante da fiscalização é assegurar que a concorrência no mercado se mantenha equilibrada. Por exemplo, evitar que uma fabricante de massa de tomate que fez o investimento para contar nos seus quadros com um engenheiro químico de alimentos tenha de competir com uma fabricante que se mantém ainda de um jeito caseiro, fazendo a massa de tomate sem ter um engenheiro responsável garantindo sua produção.


Soluções para o meio ambiente


A tarefa de fiscalização nas áreas da Engenharia Química, portanto, é imensa. Para o coordenador, algo que pode ajudar são iniciativas como um convênio firmado com a Cetesb, que já foi assinado, mas que ainda não entrou em atividade. A ideia é que o fiscal possa iniciar seu trabalho pelos projetos de licença de instalação, de ampliação e de funcionamento que toda indústria precisa apresentar para entrar em operação. Os projetos têm os processos descritos em detalhes. O fiscal poderia começar antes sua tarefa, verificando cada processo e seu responsável. “Nesses processos, tudo está escrito. É como se todos os pasteleiros, tanto na rua quanto nos bares, tivessem tudo definido para atuar. Com uma especificação de onde deveriam jogar o óleo, por exemplo, haveria muito menos poluição nas águas”.


O caso do pasteleiro leva ao raciocínio de que há também um problema mais geral, de falta de conscientização da população. “Um pintor que lava seus pincéis na rua está causando poluição por um processo químico. Nas casas, se perguntarmos se as pessoas sabem que não deveriam jogar óleo na pia porque isso suja os rios, é provável que todo mundo responda que sabe. Mas quem não joga?”, questiona Pereira.


No aspecto do cuidado com o meio ambiente reside o maior potencial de contribuição que a Engenheira Química pode dar à sociedade. Toda poluição, toda danificação causada à água, ao solo, ao ar, aos materiais, se dá por um processo químico. E são processos químicos que precisam ser usados para reverter ou corrigir os danos.


O papel da Engenharia Química nesse contexto também é o de desenvolver produtos que não agridam o meio ambiente. São os casos dos plásticos biodegradáveis e combustíveis “verdes”, como os que têm sido criados com fórmulas para causar menos poluição. “Estar presente nas novidades, para garantir a segurança e, junto com outras engenharias, fazer sempre o melhor, essa é a missão”, finaliza Pereira.



Produzido por CDI Comunicação

Supervisão: Departamento de Comunicação do Crea-SP / SUPGES


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